O Dia do Mar, celebrado em 12 de outubro, chama a atenção para a importância dos ecossistemas marinhos na manutenção da vida no planeta. Localizada em uma ilha banhada pela Baía de Guanabara, a UFRJ exerce papel central na produção de conhecimento científico e técnico voltado à conservação costeira e marinha, contribuindo para compreender, monitorar e propor soluções para os desafios ambientais que afetam a região.
A Baía de Guanabara é um dos principais cartões-postais do Rio de Janeiro, mas sua beleza contrasta com a degradação ambiental provocada pelo acúmulo de lixo, lançamento de esgoto sem tratamento e abandono de embarcações. Essas ações comprometem a qualidade da água, ameaçam a biodiversidade e impactam diretamente a Cidade Universitária, onde correntes marinhas e ventos transportam resíduos vindos de diferentes pontos da baía. Em dias de chuva, o problema se agrava com o aumento do volume de esgoto e detritos que chegam pelos rios e canais da região metropolitana.
Estudos realizados na Ilha do Fundão apontam variações significativas na qualidade da água, frequentemente comprometida por coliformes fecais e outros contaminantes. A monografia “Análise de Indicadores Microbiológicos de Contaminação Fecal nas Praias da Ilha do Fundão, Rio de Janeiro-RJ”, de Laura Maia de Oliveira, desenvolvida no Instituto de Microbiologia Paulo de Góes (IMPG/UFRJ) sob orientação do Prof. Dr. Marco Antônio Lemos Miguel e coorientação de Agnes Maria Cupertino Fernandes Araujo, analisou 58 amostras coletadas entre 2021 e 2024. O trabalho constatou altos níveis de poluição fecal e presença de resíduos sólidos, reforçando a urgência de medidas de saneamento básico e monitoramento ambiental contínuo na Baía de Guanabara.
Grande parte dessa poluição é proveniente dos municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro cujos corpos d’água desembocam na Baía de Guanabara, o que explica a chegada de resíduos às margens da Cidade Universitária mesmo quando sua origem está distante da Ilha do Fundão. Essa situação revela não apenas o impacto da poluição, mas também a ausência de infraestrutura de saneamento em várias áreas urbanas.

A poluição que atinge o campus é um alerta diário de que a recuperação da Baía de Guanabara é um desafio coletivo. Ao mesmo tempo em que sofre os impactos da degradação ambiental, a UFRJ atua como um espaço de conhecimento e inovação, contribuindo para a construção de soluções sustentáveis. A integração entre pesquisa científica, gestão ambiental e políticas públicas é essencial para que a baía deixe de simbolizar contraste e passe a representar um patrimônio natural, cultural e científico do estado do Rio de Janeiro.
Entre as iniciativas voltadas à recuperação e valorização da orla, destaca-se o Projeto Parque da Orla, concebido em 2055 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e pelo Escritório Técnico da UFRJ, e retomado no Plano Diretor UFRJ 2030. O projeto propõe a criação de um espaço de convivência, lazer e educação ambiental voltado para a Baía de Guanabara, integrando a comunidade universitária e o entorno. Ensaios laboratoriais já indicaram potencial de balneabilidade na área, desde que solucionados os problemas de lixo flutuante e tratamento de esgoto. A iniciativa tem relevância ambiental, social e econômica, beneficiando escolas locais, pescadores e empreendimentos da região, além de reforçar o vínculo sustentável entre o campus e o ambiente marinho.
Diversos grupos da UFRJ também realizam pesquisas interdisciplinares sobre a Baía de Guanabara, como estudos sobre microplásticos, vida marinha, transporte de resíduos e monitoramento da qualidade da água. Um exemplo é a rede de pesquisa “Tartarugas Cariocas”, que reúne cientistas da Fiocruz, UFRJ, UFF, FURG, e dos institutos Caminho Marinho e Mar Urbano, no acompanhamento da saúde das tartarugas marinhas. Os resultados indicam uma melhoria gradual na qualidade da água e na condição desses animais, sinalizando que as medidas de despoluição começam a gerar efeitos positivos, embora os desafios persistam, especialmente nas áreas da Baixada Fluminense, que ainda despejam grandes volumes de esgoto e resíduos sólidos na baía.
Outra iniciativa de destaque é o projeto Orla Sem Lixo Transforma, que desenvolve soluções de baixo custo para interceptação e reciclagem do lixo flutuante. O projeto propõe um modelo participativo e replicável, envolvendo a comunidade local na recuperação da orla, restauração ecológica e valorização da pesca artesanal, transformando o problema do lixo em oportunidade de sustentabilidade econômica e ambiental.
Recentemente, durante a ação organizada pela International Coastal Cleanup (ICC BRASIL), foram retiradas quase 6 toneladas de resíduos descartados que chegam do mar e, consequentemente, à orla do campus.
No dia a dia, durante a execução de serviços de manutenção das áreas verdes, os funcionários se deparam com grande quantidade de resíduos contaminados, inclusive perfurocortantes, que são trazidos pela maré a acabam ficando acumulados pela de praia e se espelhando pelas áreas gramadas do entorno. Na medida do possível, esse material é recolhido, principalmente quando atividades de campo são agendadas, visando mitigar riscos aos usuários, visto o grande risco que esses resíduos representam para o uso do Campus.
Ao investir em ensino, pesquisa, extensão e inovação voltadas aos ecossistemas costeiros, a UFRJ reafirma seu compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente o ODS 14 – Vida na Água. Essas ações reforçam a visão de que cuidar do mar é mais do que um compromisso acadêmico — é um dever social e um passo essencial para a construção de um futuro mais equilibrado entre a cidade e o oceano.
Projetos:
