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Leher assume Reitoria querendo aproximação com movimentos sociais

 

Foto posse O professor Roberto Leher assumiu na dia 3/7 o cargo de reitor da instituição, em cerimônia no auditório nobre do  Centro de Tecnologia (CT)

 

 LEHER ASSUME REITORIA QUERENDO APROXIMAÇÃO COM MOVIMENTOS SOCIAIS

Sidney Coutinho – 08/07/15

 

Com um discurso revelador das intenções como gestor à frente da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o professor Roberto Leher assumiu na última sexta-feira (3/7) o cargo de reitor da instituição, em cerimônia no auditório nobre do Centro de Tecnologia (CT). Professores, estudantes, servidores técnico-administrativos, parlamentares, representantes de outras instituições de ensino superior e de movimentos sociais organizados compunham a eclética plateia, que lotou o espaço.

Segundo Leher, o projeto a ser implantado para a UFRJ virá das experiências pessoal e profissional na Faculdade de Educação. “Pensar a universidade a partir do prisma da educação ilumina zonas que muitas vezes estão fora do campo de observação cotidiana e pela hierarquia de áreas que supostamente deveriam estruturar e organizar a produção de conhecimento não só nas universidades, mas em todo o sistema de ciência e tecnologia”, destacou, lembrando em sequência que dois organizadores intelectuais de universidades no Brasil vieram da Educação: Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira.

Discutir e avaliar qual o lugar da graduação no projeto institucional é uma meta. Para Leher, será preciso que, além dos conhecimentos específicos, em diversas áreas e níveis, os estudantes devam ter formação ampla por meio de cultura geral que possibilite, de fato, assegurar o envolvimento numa imaginação criadora e inventiva. “A graduação é o solo a partir do qual florescem a extensão, a pesquisa, enfim, tudo aquilo que podemos fazer nesta instituição como nossa responsabilidade pública”, disse o novo reitor, ressaltando que todos os processos devem estar referenciados em uma ética pública.

Roberto Leher comprometeu-se em rever o Plano Diretor da instituição e elaborar um novo Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), bem como reavaliar a concessão, durante a ditadura militar, da honraria de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente Emílio Garrastazu Médici. Consciente de que assume no momento da maior crise econômica e política do Brasil nas últimas décadas, o novo reitor demonstrou preocupação com o retrocesso no esforço de várias gerações para colocar a tecnologia a serviço das necessidades humanas.

A contribuição das universidades envolve esforço e ousadia intelectual para entender dilemas presentes em todos os domínios. Para ele, a universidade deve ser referência pública para pensar questões complexas e decisivas ao futuro da humanidade, como as mudanças climáticas globais, da soberania alimentar, dos dilemas nos campos da energia, da educação, da saúde, da arte e da cultura. “Nós devemos trabalhar uma perspectiva para que a nossa universidade se anime a desenvolver esses grandes complexos temáticos”, destacou.

UFRJ deve ser capaz de se antecipar a problemas

Para Roberto Leher, a tarefa deve ser feita com os movimentos sociais de forma que a universidade não seja apenas uma instituição para documentar o presente, mas para ter a capacidade antecipatória dos problemas. “Ela deve projetar cenários, possibilidades, sem o que não podemos caminhar para mudanças que devem ser realizadas no tempo presente frente a situações de concentração abissal de poder e renda na mão de poucos estados e corporações”, afirmou.

A posse do novo reitor da UFRJ ocorre em um momento em que professores, técnicos e até estudantes estão em greve. As dificuldades orçamentárias pelas quais as Instituições Federais de Ensino passam, de acordo com Leher, são decorrentes da robusta expansão pactuada com o Ministério da Educação em 2007, que não foi acompanhada[D1]  de verbas na mesma proporção para a expansão no número de cursos e de estudantes.

“Os recursos após 2012 decresceram acentuadamente, gerando um quadro de crise que explica a greve nos três segmentos”, afirmou, exemplificando com a redução das verbas de custeio. Para ele, é preciso olhar os números e valores não de forma absoluta. Em 2010, eram 240 milhões de reais para pagar 870 terceirizados. Três anos depois, 301 milhões de reais para pagar 5 mil terceirizados. A falta de recursos afeta também os investimentos. Ele lembrou que em 2011 o governo repassou[D2]  115 milhões e em 2014 apenas 61 milhões de reais. Mesmo assim, quase a totalidade de recursos foi contingenciada, ou seja, subtraída para fazer o superávit primário brasileiro.

De acordo com o novo reitor, enquanto os prédios universitários ainda estão em “esqueletos”, os alojamentos e restaurantes universitários não saem do papel, o hospital universitário ainda carece da conclusão de obras, o governo federal, por meio do Ministério da Educação, custeia os fundos de investimentos que controlam as instituições de ensino superior de natureza mercantil. O salto de 1,1 bilhão, em 2010, para 13,8 bilhões, em 2014, nos recursos alocados pelo governo federal para o programa de Financiamento Estudantil, o Fies, foi lembrado por Leher. Em oito anos, evidenciou o novo reitor, o aumento de recursos para as universidades federais foi de apenas 9 bilhões: “A previsão orçamentária para 2017 é de 21 bilhões de reais (para o Fies), e não podemos nos furtar a essa reflexão”.

De qualquer forma, mesmo diante das dificuldades, o discurso de Leher cativou a plateia com palavras que desafiavam e convidavam todos a construir uma universidade pública mais autônoma e próxima dos interesses da sociedade. “Teremos um quadriênio fecundo. A universidade está pulsando de energia, e queremos ter uma agenda que fortaleça os princípios éticos e republicanos no uso de recursos”, disse ele, para assegurar que a UFRJ será reconhecida pelo protagonismo no campo intelectual e nos processos de formação, o que vai possibilitar a reconciliação do trabalho de professores, técnicos e estudantes.

“O trabalho tem de ser uma dimensão que nos humaniza, uma forma de interação com o mundo que produz alegria, paixão, desejo, engajamento e autorrealização. Não podemos entrar no processo destrutivo que temos hoje em diversas universidades, nas quais os profissionais estão se sentindo infelizes, adoecendo. Eu não tenho dúvida de que esses próximos quatro anos serão os mais felizes de nossas vidas”, finalizou o novo reitor.