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ComCiência Feminina quer mudar cultura sexista na universidade


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O Coletivo Feminino busca mostrar tanto para as mulheres quanto para os homens que a universidade é um espaço de conhecimento e diálogo

 

 

 

COMCIÊNCIA FEMININA QUER MUDAR CULTURA SEXISTA NA UNIVERSIDADE

Seja nos trotes ou nas festas universitárias, o objetivo é mostrar que a mulher deve ser respeitada sempre.

 

Sidney Coutinho – 03/04/16

 

Por todo o país, a alegria pela conquista de uma vaga em uma instituição de ensino superior dá lugar à ansiedade nos primeiros dias de aula, quando “brincadeiras” descabidas põem em risco a integridade física dos calouros ou são exclusivamente voltadas para o rebaixamento das pessoas, principalmente das mulheres e minorias. Dispostas a romper com esse ciclo, as integrantes do Coletivo ComCiência Feminina do Centro de Tecnologia da UFRJ querem que a recepção dos novos estudantes em 2016 seja completamente diferente dos anos anteriores.

As brincadeiras sexistas darão lugar a atividades que busquem a integração entre os estudantes, sendo mais voltadas para orientação do que para a humilhação, de acordo com Letícia Ramos, do Diretório Acadêmico da Escola de Química e também integrante do Coletivo Feminino. “A gente quer que novas amizades sejam criadas no período, que os novos alunos sejam acolhidos e orientados sobre como funcionam as coisas ou como é o ambiente no qual ele vai passar grande parte do dia nos próximos anos”, explicou a estudante que está no quarto período de Engenharia Química.

A iniciativa não é pioneira entre as instituições de ensino superior. Na Universidade Federal de Santa Catarina, por exemplo, uma cartilha de prevenção às violências sexistas, homofóbicas e racistas nos trotes universitários foi lançada, em 2011, para evitar que os veteranos não passassem dos limites na recepção dos novos alunos. No entanto, a participação feminina nos centros e diretórios acadêmicos dos cursos do Centro de Tecnologia já mostra uma mudança cultural na UFRJ, mesmo que ainda só no começo.

Criado há menos de seis meses, o Coletivo busca mostrar tanto para as mulheres quanto para os homens que a universidade é um espaço de conhecimento e diálogo, propenso a mudanças positivas para a sociedade, no qual a base das relações sociais seja o respeito ao ser humano, independente do sexo. A atuação das integrantes do Coletivo Feminino já deixou um marco na UFRJ. Em março, elas montaram um centro para  acolhimento de vítimas de agressão por racismo ou sexismo em uma das mais tradicionais “chopadas” universitárias, a da Caninha.

Dispostos a não permitir a repetição de incidentes como o do ano anterior, quando a agressão a uma estudante da Faculdade Nacional de Direito durante o evento chegou às páginas dos jornais e refletiu negativamente para a própria UFRJ, os organizadores da Caninha contrataram seguranças e abriram espaço para atuação de 11 meninas do Coletivo Feminino que passaram a noite inteira controlando quem se excedia. “A gente tinha uma escolha a fazer a partir do que havia acontecido: ou boicotar a festa, que reúne até 5 mil pessoas, ou se propor a transformá-la”, resumiu Letícia sobre a iniciativa.

Segundo a estudante de Engenharia Mecânica Lorrane Morena, que participou da ação do Coletivo, em vários momentos as mulheres que participavam da festa nos procuravam para elogiar a atitude, que as deixavam se sentir muito mais seguras ao participar da Caninha. “Estávamos ali para proteger as mulheres e elas perceberam. Ninguém ficaria impune após uma atitude de desrespeito. O primeiro passo que demos foi igualar o valor do ingresso independente de sexo, pois a gente sabe que muitos enxergam as mulheres como produto quando há uma diferenciação de preço. E nenhuma menina reclamou, pelo contrário, elas entenderam o motivo”, contou ela, que faz parte do Centro de Acadêmico de Engenharia (CAEng).

Essa mudança cultural é a meta do Coletivo Feminino. Para as integrantes do grupo, são injustificáveis as formas de opressão feminina na universidade já que todos estudaram e se esforçaram para conquistar as vagas nos cursos independente do gênero. “O Centro Acadêmico da Engenharia era exclusivamente masculino e não havia tais preocupações sociais. Hoje, a participação feminina leva a mudanças de atitude dos estudantes, inclusive das próprias mulheres”, relata Thaís Pessoa, que concilia o curso de Engenharia Naval com a direção do CAEng.

Pelo menos uma vez por semana, as integrantes do ComCiência Feminina se reúnem, alternando a cada sete dias a data de encontro: uma vez nas segundas e outro nas quintas-feiras, na sede do CAEng, no bloco F, do Centro de Tecnologia. “Temos consciência de que não podemos acompanhar todos os eventos da UFRJ, mas estamos dispostas a compartilhar a experiência com outras meninas. Lembrar que existem leis destinadas a proteger as mulheres”, destaca Thaís. A ideia é ajudar a ter novos Coletivos Femininos em cada unidade, pois há peculiaridades em cada curso. “Mas quem quiser conhecer um pouco mais sobre como atuamos, basta entrar no Facebook e buscar Coletivo ComCiência Feminina“, encerrou Lorrane.