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Muro da prefeitura ganha obras de artistas da Escola de Belas Artes

Capa Mural DalilaUma grande tela a céu aberto com 270 metros de extensão.

 

 

 

 

 

 

MURO DA PREFEITURA GANHA OBRAS DE ARTISTAS DA ESCOLA DE BELAS ARTES

03.01.2018

 

Pelo mundo afora, a arte do grafite tem reinventado cenários do cotidiano. Ao contrário das pichações, o grafite embeleza as áreas urbanas, trazendo cores e obras a serem contempladas pelas pessoas que circulam em locais degradados. Com essa ideia na cabeça, o prefeito da UFRJ propôs a professora Dalila Santos, da Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) aproveitar um muro de mais de 270 metros de extensão e transformá-lo em uma grande tela a céu aberto. Em seis meses, o projeto tomou forma e hoje incorpora o dia a dia de quem passa pela Avenida Brigadeiro Trompowski, a pé, de carro ou em transporte público.

São seis painéis pintados pela professora própria professora Dalila, pelo professor Luiz Neves e por sete alunos dos projetos de Cor e Arte Mural do Programa de Bolsas de Iniciação Artística e Cultural (Pibiac). A proposta inicial era de que cada um ficasse com uma parte de 34 metros para desenvolver livremente o tema que viesse à cabeça em um prazo de 30 dias, aproveitando as férias na universidade. Todavia, a conclusão do enorme painel fugiu do prazo assim como foram redefinidos os espaços de cada artista.

Murais são obras que existem desde a Grécia antiga, segundo a professora, e chegam aos dias de hoje como uma forma de discussão pública. “Colocamos na parede aquilo que está circulando na mídia e é debatido pelas pessoas. E elas, por sua vez, interagem com a proposta artística”, explicou Dalila.

A Prefeitura da UFRJ procurava algo que pudesse aproveitar melhor o muro, que estava sendo alvo de constantes pichações e até para publicidade sem o menor proveito para a universidade. “Nada melhor do que utilizar esse grande outdoor para levar a arte produzida pelos nossos alunos e professores da EBA, algo produzido por gente de nossa instituição para milhares de pessoas que passam por ali todos os dias”, afirmou o prefeito.

Embora o grafite seja uma arte cada vez mais difundida e que ultrapassa os limites de uma tela, há um preço a ser pago pela exposição ao ar livre: o desgaste com o tempo. “Pelos materiais que utilizamos, a gente acredita que até o fim de 2018 não apareça os sinais de deterioração, mas o que importa é que asseguramos um espaço de arte pública. Quando for preciso, em vez de retocar, faremos novas obras que ficarão expostas no local, como é a proposta do grafite”, assegura Dalila.

O professor Luiz Neves lembrou que a adoção de outros materiais para corrigir as imperfeições do muro poderia encarecer o projeto. Ele se surpreendia com a má utilização do espaço, que poderia sujeitar à multa quem utilizava indevidamente a área pública. “Mas agora temos nove painéis e alguns deles marcam claramente o espaço. Um exemplo é a enorme serpente que chama a atenção de quem passa pela Linha Vermelha”.

As obras e os autores


Mas ninguém que passa pela região fica indiferente a qualquer uma das obras, que receberam títulos diferentes e convidam à reflexão: Os bons companheiros; Animais ameaçados de extinção em fundo geométrico; Imprevisibilidade, Conflitos Urbanos, Perigosa, Universo Paralelo, O começo, Órgãos Cósmicos e Paisagem Oculta. Conheça abaixo um pouco do que cada um dos autores quis propor ao público.

Os Bons Companheiros (Dalila)
São máscaras que representam arquétipos que estão dentro de todos: a face da mulher, retratando o empoderamento feminino; um médico medieval que acreditava afastar os maus fluídos com os trajes que usava; uma máscara anti-gases, usada para proteger dos gases venenosos; a máscara africana simbolizando a questão étnica; um cavaleiro medieval, representante do poder militar e unificação de nações; um dragão, sinônimo não da maldade, mas de um animal mítico que traz a fortuna.

Animais ameaçados de extinção em fundo geométrico (Cassiopéia)
O lobo-guará, a tartaruga de pente, o mico-leão dourado, a arara azul, o boto e o peixe-boi são as espécies da fauna brasileira ameaçadas de desaparecer pela ação do homem e que estão representados sobre um fundo com várias figuras geométricas para chamar a atenção de quem passa para a necessidade de preservar a natureza.

Imprevisibilidade (Bruno Life)
Reflete a dualidade constante presente na vida das pessoas, por meio da representação da suavidade de um campo florido em oposição aos obstáculos e espinhos de uma área tomada por cactos.

Conflitos Urbanos (Giulia)
Com a proposta de trazer para a reflexão temas controversos como a pedofilia, o machismo, a violência doméstica e usando predominante a cor azul para sugerir a paz, o painel é introspectivo e tem por base a solidão e a ingenuidade humanas.

Perigosa (Fernando)
Uma enorme e sinuosa cobra ocupa quase todo o mural para despertar a atenção e ocupar plenamente o espaço. A obra foi a primeira a ser concluída e involuntariamente demarcou o espaço para a entrada das demais pinturas.

Universo Paralelo (Maria Pagnelli)
O mar e o espaço se misturam e são cenários para as aventuras de um astronauta que observa e é observado pelos animais marinhos, bem como para um homem que navega em uma embarcação. Busca mostrar a semelhança entre os dois ambientes.

O começo (Ana Catharina Braga)
Subdividido em três partes, que representam a cultura indígena solapada pelos colonizadores a custa de um mar de sangue, a dualidade entre criacionismo e ciência na origem do mundo e a gestante, que carrega a força de uma nova vida, do recomeço.

Órgãos cósmicos (Eduardo)
Por meio de três órgãos sugere a pintura do painel que o olho seja a janela para o mundo exterior e interior, o coração e o cérebro, respectivamente, o centro da sensibilidade e da razão humana para a infinita gama de facetas que somos e representamos.

Paisagem Oculta (Luiz Neves)
É um convite para um outro olhar do Canal do Cunha, apresentando o ritmo dos barcos que mudam de posição conforme as oscilações das marés, bem como refletem novas cores com o passar do dia.